sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Trabalho de pós-doutorado - Relações de transcodificações nas manifestações culturais japonesas: dos mangás às performances superflat


Esta pesquisa supervisionada pelo Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro e financiada pelo Conselho Nacional do desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) está sendo desenvolvida na Escola de Comunicação e Cultura da Universidade de São Paulo – ECA/ USP.

Diante de uma temática nada comum, penso eu, abaixo se encontra uma breve descrição da pesquisa e seus futuros desdobramentos.

O estudo contemplou num primeiro momento compreender o processo de formação da linguagem do moderno mangá – vindo a constituir o primeiro capítulo intitulado - CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE VISUAL DOS MANGÁS - a partir da identificação dos elementos compartilhados por outras linguagens artísticas anteriores.

Num segundo momento, ao partir da compreensão dos mangás como fenômeno de consumo e exportação em relação aos demais produtos do entretenimento do Japão, o objetivo foi identificar quais seriam os elementos ou traços característicos desse produto que seriam herdados, e, portanto, acompanhariam as outras manifestações culturais de massa subordinadas a ele. Como resposta a esta questão surgiu o segundo capítulo com o título - AS RECODIFICAÇÕES DA ESTÉTICA DOS MANGÁS – no qual se identificou o visual kawaii como traço representativo da estética 2D dos quadrinhos japoneses - por resultar numa característica permanente da composição visual e conceitual dos mangás.

Definida a estética kawaii como o traço comum entre as manifestações culturais do Japão, o próximo passo foi compreender os deslocamentos desse visual para outros meios e suportes. Nessa trajetória, a primeira opção foi estudar os deslocamentos dessa estética do meio impresso para o meio virtual, a partir da análise dos games e da projeção holográfica. Posteriormente, nos deslocamentos da estética kawaii do meio virtual para o mundo real - no momento em que bonecas de colegiais uniformizadas e que corpos reproduzidos com dimensões reais descolam das telas do mundo bidimensional e são dados a um novo tipo de relacionamento fetichista - importou à pesquisa responder - como se dá passagem da coisa para o corpo vivo. Para tanto, houve a necessidade de recorrer às discussões teóricas de autores cujos estudos se apóiam em questões sociológicas, tais como Massimo di Felice, Derrick de Kerckhove, Michel Maffesoli, Mario Perniola, entre outros. Estes autores nos permitiram cercar a questão a partir de discussões sobre processos de dissolução de barreiras entre estados opostos. Em Simulacros e simulações (1981) de Jean Baudrillard a questão adquiriu centralidade no conceito de fetichismo de Walter Benjamin, e nos possibilitou compreender a dissolução das barreiras entre o orgânico e o inorgânico; em Repensando o ritual (2000) de Mario Perniola, entendemos que a essência do simulacro se concretiza na dissolução entre a realidade e a aparência; em A ilusão vital (2001), encontramos o suporte teórico de Di Felice, que foi  essencial para se repensar as linhas do visível e invisível, presente e ausente, original e cópia.


Quanto ao resultado obtido neste estudo é que se pode avaliar o grau da importância dessa estética kawaii dentro do contexto cultural do Japão, quando ela parece ultrapassar os limites da produção do mercado cultural de massa, estendendo-se para todo o cotidiano e permeando a vida dos japoneses. A partir do momento em que essa estética pode contar com o desejo humano de incorporá-la possibilitou o surgimento de novas formas de comunicação, representativas de um desejo profundo de transformação - definido por Kerckhove (2009) como; mudança de pele, na medida em que os japoneses encontraram uma resposta aos traumas da industrialização após a Segunda Guerra Mundial (não somente isto)  muda-se de aparência, mas o conteúdo permanece.

Por fim, no capítulo 3 já intitulado - REDESENHANDO AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO - trataremos do mecanismo intersemiótico entre as manifestações culturais japonesas que nos possibilitará à compreensão da identidade visual dos mangás como modelo de identificação pessoal, e a partir daí, o trabalho contribuirá com um mapeamento das novas formas de comunicação admitidas no Japão a partir da estética 2D dos quadrinhos japoneses.


Dra. Patrícia Borges

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