quarta-feira, 20 de março de 2024

Mudanças no público leitor de mangá


Quando eu eu passava de adolescente para jovem, lá nos hoje temporalmente distantes idos da década de 1960, o mundo me parecia mais simples. Talvez eu até estivesse enganado, mas tinha a impressão de que os meninos liam gibis (em geral de super-heróis) e as meninas liam fotonovelas (em geral, histórias românticas). Isso hoje é passado. Na realidade, mesmo aquelas produções culturais produzidas para homens ou para mulheres, especificamente, já não são mais consumidas exclusivamente por esse público específico. Nada impede que as mulheres sintam prazer na leitura, por exemplo, de histórias em quadrinhos produzidas para homens. Ou vice-versa. E é bom que seja assim. Já temos rótulos demais.

Refletindo basicamente sobre essa questão no âmbito da produção de mangás, as autoras Beatriz Corrêa Oscar da Silva, Carolina Alves Magaldi e Laura Rodrigues de Freitas, todas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apresentaram nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP, o trabalho "Pra lá de onde o gênero faz a curva: as mudanças no perfil do público leitor de mangás shoujo e shounen". O texto, transformado em artigo científico, foi há poucos dias publicado no dossiê especial da revista 9a Arte.

As autoras almejaram discutir a intrínseca relação entre gênero e mangá, visando compreender as mudanças contemporâneas no perfil do público leitor de shoujo (mangá para mulheres) e shounen (mangá para homens). Para tal, explorararam o histórico do mangá como narrativa e representação dos perfis femininos e masculinos, discutiram os pormenores dos subgêneros shoujo e shounen e analisaram os mangás de maior destaque entre leitores do gênero oposto ao alvo da demografia em questão. Para atingir esses objetivos, partiram de pressupostos da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss (1994 [1970]), de forma a problematizar as alterações contemporâneas nos quadrinhos japoneses.

A discussão e as interessantes conclusões a que chegaram as autoras podem ser acessadas no endereço eletrônico Pra lá de onde o gênero faz a curva: as mudanças no perfil do público leitor de mangás shoujo e shounen | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro



As representações da morte


A morte já foi representada graficamente de diversas maneiras nas histórias em quadrinhos. A mais classica, talvez, é a de uma mulher descarnada vestindo manto e capuz, carregando sempre uma foice, com a qual "ceifa" as almas dos seres vivos. Ela é em geral apresentada de forma horripilante, como nas narrativas do personagem Dylan Dog, ou com características humorísticas, como nas histórias dos Estúdios Maurício de Sousa. Mas a verdade é que essa representação pode variar de autor para autor, com alguns carregando mais nos pincéis.

Raí Garcia Mihi Barbalho VianaMaria Isabel Borges, ambos da Universidade Estadual de Londrina, buscam um desses autores, o cartunista brasileiro Alberto Benett e analisam as formas como este realiza a representação da morte em sua obra. Como critérios de seleção do corpus, os autores elencam produções publicadas na página do Facebook “Benett Apavora”; gêneros tira cômica e charge; e produções que evidenciem a temática da morte por meio de símbolos visuais reconhecíveis (caveira, ceifador, esqueleto). Nesse sentido, o escopo temporal delimitado (janeiro de 2020 a abril de 2023) parece ter sido muito favorável, pois muitas produções abordavam a pandemia pela Covid-19

O levantamento resultou em 52 textos sobre a morte, sendo 42 charges e 10 tiras. Para o artigo, intitulado "As faces da morte e o lado descarnado da vida segundo Benett", foram escolhidas cinco amostras para análise: duas tiras cômicas e três charges. O aporte teórico é composto por estudos sobre símbolos da morte, linguagem e gêneros das histórias em quadrinhos. A análise comprovou a prevalência da caveira e do ceifador, dada sugestão evocativa da morte, mas atestou que o efeito de sentido da utilização pode ser alterado de texto para texto.

O artigo representa mais uma adição ao dossiê das 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que compõe um número especial da revista 9a Arte. Ver em: As faces da morte e o lado descarnado da vida segundo Benett | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

Representação dos negros nos mangás



Como mencionado em postagem anterior - ver postagem Observatório de Histórias em Quadrinhos - USP: Fragmentos da memória negra nos quadrinhos brasileiros (observatoriodehistoriasemquadrinhos.blogspot.com) - a representação dos negros nas histórias em quadrinhos tem atraído cada vez mais o interesse dos pesquisadores brasileiros. Nesse sentido, pode-se afirmar que o artigo elaborado por Anna Luísa Diniz Felipe e Michele Delbon Silva, vem corroborar essa constatação, dessa vez enfocando um tipo específico de história em quadrinhos, o mangá. No caso, as autoras se debruçam sobre uma produção específica, a série Jojo´s Bizarre Adventure, destacando como ela aborda questões de identidade negra e diversidade, ainda que de maneira problemática, na cultura japonesa

No artigo "Negros mágicos” e a evolução da representação de negritudes em Jojo’s Bizarre Adventure", as autoras discutem a importância da representatividade e exploram as implicações sociais e culturais dessa representação, focando em personagens como Muhammad Avdol e padre Pucci para questionar estereótipos raciais.

O artigo é um dos recentes acréscimos ao dossiê das 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos que está sendo publicado pela revista 9a Arte. Interessados podem ter acesso a ele no endereço eletrônico “Negros mágicos” e a evolução da representação de negritudes em Jojo’s Bizarre Adventure: os casos de Avdol e Pucci | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Trata-se de uma boa e instigante abordagem ao tema.

Prof.. Dr.. Waldomiro Vergueiro


terça-feira, 19 de março de 2024

Fragmentos da memória negra nos quadrinhos brasileiros

 


Pode-se afirmar que é muito difícil contabilizar os fatos e personagens negros na história brasileira que não foram devidamente documentados, registrados, transmitidos pela história oficial, e que, em diversos movimentos de reavivamento e resgates, vêm sendo “descobertos” e têm suas histórias, então, divulgadas. Isso vem ocorrendo por meio da literatura, das artes visuais, do jornalismo e dos quadrinhos que, para além de abordagens autobiográficas, também se debruçam, por exemplo, em discorrer sobre eventos históricos, em biografar a vida de terceiros, em falar da relação de manifestações, objetos ou espaços com determinadas comunidades e grupos.  

Tendo a memória, enquanto seu resgate e sua manutenção, como ponto focal em sua abordagem, esses trabalhos dialogam também com pontos sensíveis da arte afro-brasileira. Tal ocorre com o artigo de Leonardo Rodrigues dos Santos, intitulado "O desvelar da cultura negra nos quadrinhos brasileiros", publicado na edição da revista 9a Arte dedicada à reunião dos trabalhos apresentados nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos

O artigo objetiva debater como alguns quadrinhos vêm operando como ferramenta de perpetuação de diferentes fragmentos da memória negra brasileira, analisando essas produções pelas lentes da história, história da arte e de estudos raciais. Trata-se de um acréscimo muito bem vindo à temática, que cada vez recebe maior atenção de pesquisadores de quadrinhos.

O artigo pode ser acessado no endereço O desvelar da memória negra nos quadrinhos brasileiros | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

quarta-feira, 6 de março de 2024

43o Colóquio Virtual do Observatório de Histórias em Quadrinhos ocorre em 08 de março de 2024



43o Colóquio Científico Virtual do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP ocorrerá nesta sexta-feira, 08 de março de 2024, das 20 às 22 horas. O colóquio terá a seguinte programação:

1. Apresentação da pesquisa de Doutorado de Miguel Geraldo Mendes Reis, intitulada Alfredo Storni e seu Zé Macaco: a pedagogia da subjetividade moderna nas historietas e O Tico-Tico. Vencedora do prêmio HQMIX de melhor tese de doutorado em 2022, a pesquisa foi realizada no Programa de Pós graduação em Comunicação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, sob a orientação da Profa. Dra. Tatiana Oliveira Siciliano.

2. Discussão do do livro The Routledge Companion to Comics, de Frank Bramlett, Roy T. Cook e Aaron Meskin (eds.), com a apresentação do capítulo “A brief history of comics in Italy and Spain", de Simone Castaldi, sob coordenação de nosso colega Roberto Elísio dos Santos.

Para participar do Colóquio, basta preencher o formulário Google em https://forms.gle/FExipUsB6CnksYKu9 e acessar o link a ser enviado posteriormente entre às 19h45 e 20h15 no dia da reunião. (atenção: pedimos a todos que solicitem ingresso na sala utilizando seu nome completo, evitando pseudônimos e nomes fantasia - não será autorizado o ingresso de pessoas com nomes que não permitam identificação). Não serão aceitas participações após as 20h15

Ao início do Colóquio, certifique-se de DESLIGAR o microfone e a câmera. Indicamos também a utilização de fones de ouvido para reduzir ruídos. A reunião em vídeo (ao vivo) pode também ser acessada por celular. Em caso de PCs e laptops, recomendamos o browser Google Chrome.

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro

sexta-feira, 1 de março de 2024

Terror à moda Disney


Na publicação Spookyzone: histórias de terror (2021) Huguinho, Zezinho e Luisinho, os conhecidos sobrinhos do Pato Donald, viajam por vários países da Europa e lá enfrentam diversos perigos sobrenaturais. A obra em quadrinhos possui quatro aventuras, cada uma dividida em duas partes. Dentre elas, Felipe Campos escolheu a história intitulada “Nas sombras da Floresta negra” como objeto de sua pesquisa.

A história mantém diálogo com vários elementos de contos de fadas aliados, como esperado, a certas convenções e personagens encontrados comumente em narrativas de medo. Em sua pesquisa, Felipe Campos buscou observar como são as estratégias utilizadas pelos textos verbal e não verbal no objetivo de causar medo no leitor. Conclui que essa publicação é um exemplo de como o terror também pode agradar leitores mais jovens, quando produzido diretamente para eles. Além de estabelecer um primeiro contato com o gênero, abre a possibilidade para que este possa se transformar em interesse no futuro, com potencial aumento no número de leitores adultos. 

A pesquisa encontra apoio teórico em Carlos Reis, Paulo Ramos, Stephen King e Thierry Groensteen. Com o título de "Histórias de medo para crianças como primeiras leituras de terror e a viagem assustadora de Huguinho, Zezinho e Luisinho", ela foi apresentada nas 7as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos do Observatório de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP).

Interessados em conhecer melhor esta discussão inovadora sobre a introdução de leitores no gênero terror têm acesso a ela em artigo que foi publicado no dossiê das 7as Jornadas da revista 9a Arte. O endereço para tanto é Histórias de medo para crianças como primeiras leituras de terror e a viagem assustadora de Huguinho, Zezinho e Luisinho | 9ª Arte (São Paulo) (usp.br).

Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro