quinta-feira, 16 de novembro de 2023

E a aventura continua... por outras mãos


 

Uma estratégia das editoras comerciais é a utilização de ghosts, artistas que auxiliam o quadrinista principal sem levar o crédito. Alguns são responsáveis apenas pelos desenhos de fundo, como paisagens e cenários. Will Eisner, um autor consagrado, contava com uma linha de produção com diversos profissionais. Jules Feiffer e Wally Wood, cartunistas que ganharam fama posteriormente, trabalharam no estúdio de Eisner ao lado de outros desconhecidos.

Personagens e histórias que sempre estiveram ligados a seus criadores originais passaram, após o falecimento desses artistas, para outras mãos que emulam o traço, os temas e as estruturas narrativas das histórias. É o caso de Carl Barks, cujo trabalho e estilo foram reproduzidos por Vicar e Daniel Branca e, mais recentemente, pelo brasileiro Carlos Mota. Alguns poucos artistas, porém, não permitiram que outros assumissem seu lugar, a exemplo de Hergé (Tintim) – que também contratava ghosts -, e de Bill Watterson (Calvin e Haroldo). Para os leitores que seguem o cânone, a segunda decisão é a mais correta, enquanto muitos fãs preferem que seus personagens preferidos sigam por novos caminhos.

Na Europa, inclusive, quadrinistas contemporâneos sucederam os artífices de personagens consagrados, a exemplo do caubói Lucky Luke, idealizado pelo belga Morris (pseudônimo de Maurice de Bévère), que agora tem suas aventuras produzidas principalmente por Achdé e Jul. As façanhas dos gauleses Astérix e Obelix, símbolos da França saídos da imaginação do roteirista René Goscinny e pelo desenhista Albert Uderzo, foram transferidas para Jean-Yves Ferri e Didier Conrad. Já o dândi Corto Maltese, concebido por Hugo Pratt, serve de inspiração para que os espenhóis Juan Díaz Canales e Rubén Pellejero continuem a trajetória do herói. Indagar qual são as melhores obras, a dos criadores ou dos seus seguidores, torna-se um debate infrutífero. O importante é verificar a qualidade desses trabalhos, os anteriores ou os atuais, tanto no que concerne ao estilo gráfico como às narrativas.

Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos

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