quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O toma lá dá cá dos crossovers



Na metade dos anos 1970, a fábrica de brinquedos Gulliver colocou à venda uma caixa com bonequinhos de plástico com heróis como Batman e Robin, Capitão América, o Zorro de capa e espada, entre outros. Para um pré-adolescente fã de quadrinhos, este tesouro, infelizmente perdido no tempo, fazia a imaginação transbordar de narrativas diferentes protagonizadas pelos personagens que, naquela época, não se misturavam nos gibis. Era o primeiro crossover, embora não envolvesse quadrinhos e este termo ainda fosse desconhecido, pelo menos no Brasil.

Mas foi no final daquela década que o sonho dos leitores começou a se tornar realidade. As rivais Marvel e DC Comics se uniram - depois de fazerem juntas a adaptação para os quadrinhos de O Mágico de Oz - e publicaram dois encontros do Superman com o Homem-Aranha, um em que Batman tenta ajudar outro Bruce (o que se transforma no Incrível Hulk), além dos campeões de vendagem das duas casas no início dos anos 1980, X-Men e Novos Titãs. Por isso, reuniões de super-heróis de ambas editoras passaram a ser mais frequentes, ganhando spin-offs e um grande evento: um arco narrativo gigantesco que culminou na separação dos dois universos... até agora. Cada uma das majors estadunidenses cuidava de uma edição. Trata-se, é óbvio, de um lance de marketing e uma forma de incrementar as vendas. Mesmo assim, os fãs não se importaram e compraram inclusive edições com várias histórias fracas.

Pronto! Havia sido dada a largada para a permutação de personagens de diferentes editoras e universos não compartilhados. Além dos quadrinhos, essa hibridação ganhou as telas de cinema e das TVs (com as fitas de vídeo cassete bastante pirateadas) com o longa animado Uma cilada para Roger Rabbitt. Lançada em 1988, com direção de Robert Zemeckis, essa produção contou com a associação dos estúdios Disney, Amblin, Touchstone, etc. Personagens como Mickey e Pernalonga, Pato Donald e Patolino apareciam juntos e o filme contava ainda com a participação do cão Soneca (Droopy), do Lobo criado por Tex Avery e de Betty Boop, a melindrosa cantora de Jazz.

Como os crossovers vendiam muitas revistas e minisséries, os editores produziram alguns bem inusitados: Batman/Hortelino Trocaletra, Superman/Aliens, Archie/Predador, Quarteto Fantástico/Gen 13, Star Trek/X-Men (com dois doutores McCoy), entre muitos outros. Mais recentemente, a editora estadunidense Dynamite lançou Tarzan/Red Sonja, Groo meets Tarzan e Tarzan of the Apes/Planet of Apes. No Brasil, em 2001, Watson Portela, Franco de Rosa e outros artistas nacionais agruparam vários personagens – Mirza, Mylar, Pele de Cobra, Superargo etc. - criados por Eugênio Colonnese na graphic novel A última missão, que saiu pelo selo Graphic Brasil da Editora Opera Graphica. Até a Turma da Mônica contracenou com a Liga da Justiça e o gato Garfield nos quadrinhos e com o Menino Maluquinho e seus amigos, concebidos por Ziraldo, em dois livros ilustrados. O que ainda falta? Afinal, o mercado editorial é formado por vários universos e a fome dos leitores é insaciável.

Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos

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