quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Quadrinhos franceses e belgas - Parte 4


 f - Dos quadrinhos “franco-belgas” às distinções e diferenças nos quadrinhos belgas.

Tem havido tanto intercâmbio entre os quadrinhos belgas e franceses que muitas vezes se encontram referências a “quadrinhos franco-belgas”. O termo é conveniente, mas pode mascarar diferenças importantes entre os dois mercados nacionais (Baetens 2005, 2008; Lefèvre 2005; Bosque 2010: 123; Leroy 2010).

Mesmo os termos “quadrinhos franceses” ou os “quadrinhos belgas” podem omitir especificidades regionais ou provinciais. Tensões entre as capitais (Paris e Bruxelas) e as províncias já são visíveis dentro e ao redor dos quadrinhos de século XIX, nas viagens dos cartunistas e seus personagens das províncias para as capitais e às vezes de volta.

Distinções linguísticas, culturais, econômicas e artísticas entre os quadrinhos belgas em flamengo e os em francês são importantes para alguns fãs e estudiosos de quadrinhos belgas, enquanto os leitores franceses que não são da Bélgica muitas vezes desconhecem traços e diferenças nos quadrinhos incluindo a existência de uma tradição distinta de quadrinhos flamengos.

O termo “quadrinhos franco-belgas” também exclui ou ignora contribuições historicamente importantes de cartunistas suíços, como Topffer e Steinlen (nascido na Suíça e naturalizado francês), para quadrinhos na França e na Bélgica.

Paques (2012) e Lefevre (2009, 2011) também analisam as publicações standards (broadsheets) de banda desenhada belgas. Dupuis, Casterman e Gordinne, para quadrinhos em língua francesa, e Standaard, para quadrinhos em flamengo, têm sido grandes editores na Bélgica.

Lefevre (2005: 17) explica que as séries de quadrinhos francesas são frequentemente publicadas em capa dura no ritmo de um ou dois volumes por ano, enquanto os flamengos são publicados a uma taxa de três a cinco livros por ano. Ele observa que os volumes individuais flamengos podem ser mais curtos que os franceses, mas que as séries flamengas tendem a ser mais longas, com mais de 100 álbuns.

Em parte graças à sua taxa rápida de publicação e sua serialização em jornais, os quadrinhos flamengos durante sua “Idade de Ouro” (1945-1960) foram tipicamente envolvidos com preocupações sociais e políticas atuais, em contraste com os franceses (Baetens 2005: 34). Quadrinhos que o cartunista flamengo Vandersteen fez para revista Tintin, publicada para leitores franceses, são descritos como seus melhores trabalhos ou como exercícios de assimilação cultural, através da atenuação da especificidade flamenga.

Jan Baetens (2005, 2008) argumenta que até recentemente, cartunistas e editores belgas muitas vezes autocensuraram a especificidade cultural belga, especialmente quando produzem em francês e para leitores em França e que as referências visuais, como os horizontes urbanos belgas, constituíram a significativa especificidade cultural nacional compartilhada pelos quadrinhos belgas de língua flamenga e francesa.

Prof. Dr. Gazy Andraus

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