f - Dos quadrinhos “franco-belgas” às distinções e diferenças nos quadrinhos belgas.
Tem havido tanto intercâmbio entre os quadrinhos belgas e franceses que muitas vezes se encontram referências a “quadrinhos franco-belgas”. O termo é conveniente, mas pode mascarar diferenças importantes entre os dois mercados nacionais (Baetens 2005, 2008; Lefèvre 2005; Bosque 2010: 123; Leroy 2010).
Mesmo os termos “quadrinhos
franceses” ou os “quadrinhos belgas” podem omitir especificidades
regionais ou provinciais. Tensões entre as capitais (Paris e Bruxelas) e as
províncias já são visíveis dentro e ao redor dos quadrinhos de século XIX, nas
viagens dos cartunistas e seus personagens das províncias para as capitais e às
vezes de volta.
Distinções linguísticas, culturais,
econômicas e artísticas
entre os quadrinhos belgas em flamengo e os em francês são importantes
para alguns fãs e estudiosos de quadrinhos belgas, enquanto os leitores
franceses que não são da Bélgica muitas vezes desconhecem traços e
diferenças nos quadrinhos incluindo a existência de uma tradição
distinta de quadrinhos flamengos.
O termo “quadrinhos franco-belgas”
também exclui ou ignora contribuições historicamente importantes de
cartunistas suíços, como Topffer e Steinlen (nascido na Suíça e
naturalizado francês), para quadrinhos na França e na Bélgica.
Paques (2012) e Lefevre (2009, 2011)
também analisam as publicações standards (broadsheets)
de banda desenhada belgas. Dupuis,
Casterman e Gordinne, para quadrinhos em língua francesa, e Standaard, para quadrinhos em
flamengo, têm sido grandes editores na Bélgica.
Lefevre (2005: 17) explica
que as séries de quadrinhos francesas são frequentemente publicadas
em capa dura no ritmo de um ou dois volumes por ano, enquanto os
flamengos são publicados a uma taxa de três a cinco livros por ano. Ele
observa que os volumes individuais flamengos podem ser mais curtos que os
franceses, mas que as séries flamengas tendem a ser mais longas, com
mais de 100 álbuns.
Em parte graças à sua taxa rápida de
publicação e sua serialização em jornais, os quadrinhos flamengos durante
sua “Idade de Ouro” (1945-1960) foram tipicamente envolvidos com
preocupações sociais e políticas atuais, em contraste com os franceses
(Baetens 2005: 34). Quadrinhos que o cartunista flamengo Vandersteen fez
para revista Tintin, publicada para leitores franceses, são
descritos como seus melhores trabalhos ou como exercícios de assimilação
cultural, através da atenuação da especificidade flamenga.
Jan Baetens (2005, 2008) argumenta que
até recentemente, cartunistas e editores belgas muitas vezes autocensuraram
a especificidade cultural belga, especialmente quando produzem em francês e
para leitores em França e que as referências visuais, como os horizontes
urbanos belgas, constituíram a significativa especificidade cultural nacional
compartilhada pelos quadrinhos belgas de língua flamenga e francesa.
Prof. Dr. Gazy Andraus
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